Galáxias sem Matéria Escura? Como a MOND Explica o Universo
Por Lorran Batista Gonzaga
Em 1930, o brilhante Físico Suiço Fritz Zwicky fez predições que abalariam a cosmologia para sempre . Ao medir as velocidades de movimento de galáxias em aglomerados, notou que tais medidas mostravam velocidades muito altas, as consequências dessas medidas seriam o afastamento de tais estruturas do seu aglomerado, todavia, as galáxias continuavam ali, tal fenômeno só aconteceria se uma grande quantidade de massa 'invisível' pudesse estar deixando ligadas as galáxias ao aglomerado.
Em 1970, a astrônoma Vera Rubin ao estudar a rotação de galáxias espirais, percebeu que as estrelas nas bordas desses sistemas giravam tão rápido que, segundo as leis de Newton, deveriam ser arremessadas para o espaço, mas não era isso o observado por Vera, vê-se, ao contrario, uma estrutura coesa. Algo invisível — uma força ou massa oculta — as mantinha presas. A resposta convencional foi a matéria escura, uma substância misteriosa que permeia o cosmos, interagindo apenas pela gravidade. Hoje, para o modelo ΛCDM 27% do universo é composto por matéria escura, 68% por energia escura e somente 5% de matéria observável.
Quase meio século depois das primeiras descobertas de Zwicky, um físico israelense chamado Mordehai Milgrom propôs uma ideia radical: E se não houvesse matéria escura? E se, em vez disso, nossa compreensão da gravidade estivesse incompleta? Assim nascia a MOND (Modified Newtonian Dynamics), uma teoria que desafia o consenso científico e oferece uma explicação elegante e polêmica para os segredos mais profundos do universo.
Na física clássica, a força gravitacional diminui com o quadrado da distância como podemos ver na equação:
F F=r2G⋅M(r)⋅m
Onde:
= Constante gravitacional ()
= Massa total da galáxia dentro do raio
= Massa da estrela em órbita
= Distância da estrela ao centro da galáxia
Ou seja, podemos imaginar que nas partes externas da galáxia, onde as concentrações de matéria bariônica é escassa, essa força gravitacional também deveria ser fraca. Ao efetuar os cálculos das velocidades das componentes de galáxias (halo, bojo e disco) notamos que o bojo tem contribuições mais ativas nas partes mais internas de uma galáxia, enquanto o disco possui influencia maior na parte externa da galáxia. Ora, é de se imaginar intuitivamente que nas regiões mais externas da galáxia a velocidade tende a zero, pois é isso que nos indica as equações clássicas.
Para um movimento circular estável, a força gravitacional deve igualar a força centrífuga:
Igualando as duas forças ():
Cancelando e resolvendo para :
O que temos no entanto com as observações é o que Rubin e outros mostraram: As curvas de rotação galáctica são "planas", com estrelas orbitando a velocidades quase constantes, independentemente de sua distância do centro.
Milgrom, no entanto, seguiu um caminho diferente. Em 1983, ele publicou um artigo revolucionário no Astrophysical Journal, sugerindo que, em vez de adicionar matéria invisível, talvez precisássemos modificar as leis da dinâmica em regiões de aceleração extremamente baixa como as periferias galácticas. A MOND propõe que a força gravitacional não é linearmente proporcional à aceleração em todas as escalas. Em vez disso, abaixo de um certo limiar (a₀ ≈ 1.2 × 10⁻¹⁰ m/s²), a gravidade se torna mais intensa do que a prevista por Newton. Essa mudança sutil, quase imperceptível em escalas humanas, teria consequências cósmicas: explicaria por que as estrelas nas bordas das galáxias não escapam, sem a necessidade de matéria escura.
A Modificação da MOND
A relação básica da MOND é:
Regime newtoniano ():
Regime MOND ():
Exemplos comuns de
Forma simples (usada em muitos estudos):
Forma padrão (Milgrom, 1983):
É interessante notar que se consideramos a função de interpolação de Milgron temos: 
Podemos notar que:
temos novamente a força newtoniana F=m.aProblemas Da MOND
CONCLUSÃO
Podemos concluir, finalmente, que a MOND é uma teoria elegante que resolve o enigma das curvas de rotação planas, mas enfrenta obstáculos em escalas cosmológicas e na integração com a física moderna. Enquanto a comunidade científica continua a debater seu papel, a maioria dos cosmólogos mantém o modelo ΛCDM como o paradigma dominante, dada sua capacidade de explicar um leque mais amplo de fenômenos. A MOND, porém, permanece como um lembrete inspirador de que nossa compreensão da gravidade ainda pode estar incompleta.
REFERÊNCIA
Sanders, R. H. (2010). The Dark Matter Problem: A Historical Perspective. Cambridge University Press.
Milgrom, M. (2020). MOND: A Philosophical Approach. Springer.
Famaey, B. & McGaugh, S. (2012). Modified Newtonian Dynamics (MOND): Observational Phenomenology and Relativistic Extensions. Springer.
Bekenstein, J. (2006). Relativistic Gravitation Theory for the MOND Paradigm. Princeton University Press.
Binney, J. & Tremaine, S. (2008). Galactic Dynamics (2ª ed.). Princeton University Press.
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